Em 17 de novembro deste ano, este jornalista que vos fala publicou uma coluna, aqui para ler, contendo mínimas informações biográficas e outro pouco de aforismos ditos pelo aniversariante no mês do seu sesquicentenário, Sir Winston S. Churchill, eleito em minha lista unilateral e soberana, o homem do século XX.
Título do livro que publiquei em 2005, vinte anos que se completarão em agosto do próximo ano, ele próprio, o livro, fruto de pesquisa entre 2004 e o ano de seu lançamento, trabalho este que começou sem saber o que seria, mas com alguma certeza de que em algo daria, na medida em que a superlativa vida do objeto de pesquisa descortinara três datas comemorativas que mereciam mais um registro de um (novo) admirador, desta feita baseado na Amazônia brasileira, de Belém do Pará.
Ei-las as efemérides:
Em 2004, os três quartos de século do lançamento de “My Early Life”, “Minha Mocidade” em português, uma obra-prima lançada por ele em 1929.
Em seguida, no dia 24 de janeiro de 2005, 40 anos de sua morte.
E, para completar, em maio do mesmo ano, os 60 anos da “vitória total e incondicional” dos aliados contra o nazifascismo, pondo fim à II Guerra Mundial, em 1945.
Após a primeira coluna de 17/11, no sábado, 30, data dos seus 150 anos de nascimento, fiz alguns vídeos e stories no Instagram falando um pouco do grande Winston e da origem da minha admiração por ele.
Abaixo, seguem algumas passagens da sua vida plena e, completamente gloriosa afinal, salvo todos os milhares de casos relevantes que decerto esqueceremos, de uma vida pública de cerca de seis décadas, mais de uma dezena de ministérios - os mais importantes incluídos -, duas vezes 1º ministro, distinguido com as maiores honrarias existentes mundo afora, incluído um Nobel de Literatura após a publicação da sua monumental obra (memórias) sobre a II Guerra Mundial.
Num mundo partido e em perigo excepcional, suas lições permanecem vivas e tão prementes quanto em 1940, tempo de eliminar Hitler e o nazifascismo e a década seguinte, da Guerra Fria, da *Cortina de Ferro e da sua luta pela assinatura de um acordo de não-proliferação nuclear.
Dito isso, novamente, como os ingleses e demais europeus o saudavam pelas ruas e cerimônias da vida, repito: Churchill, Churchill!!! Churchill, Churchill!!!
O menino atrevido
O pequeno Winston fora um moleque que não levava desaforo pra casa e, pior, estudante da aristocrática como ele Eton, “encangava” até contra aulas de latim. Rebelde, pouco se lixava para as notas e em fazer média com os professores, tendo um rendimento entre fraco e satisfatório, o suficiente para não reprovar de ano.
Os pais “desequilibrados”
Filho e fruto de um casal desestruturado e de agitada vida social, como revelara em Minha Mocidade, quando o assunto era amor, atenção, cuidados e desvelos, quem lhe dava e supria as ausências paterna e materna, era a sua amada ama, a Sra. Everest.
Sra. Everest
Um grande amor da vida de Churchill, ele fora-lhe eternamente grato pelos carinhos e serviços da amorosa e bondosa senhora. Em todos os seus gabinetes, de Downing Street nº 10 para baixo, ele mantivera um retrato dela consigo.
O subestimado e os soldadinhos de chumbo
Churchill escreveu sobre a ilusão que teve de uma hipotética visão paterna virtuosa acerca dos seus atributos de gênio militar, após seu velho ver montadas as linhas dos seus soldadinhos de chumbo prontos para a batalha.
Tempos depois, soube que lorde Randolph não o encaminhara para a escola militar, Sandhurst, por um hipotético talento seu, mas por descartá-lo como advogado.
O estudante, a leitura e o militar
Se o rebelde Winston ia mal na escola, já amava literatura, poesia, história, escrever e, enquanto militar em formação, jamais deixara de cumprir com suas obrigações.
A vida na Índia
Em seus anos de formação na Índia, para onde fora designado pelo 4º Regimento dos Hussardos, Winston desenvolveu especial atenção para as obras dos historiadores ingleses Thomas Macaulay e Edward Gibbon, imitando-lhes os estilos da prosa de primeiríssima qualidade de ambos.
O primeiro pela preeminência nas obras sobre os saxões, enquanto o segundo, em razão da espetacular obra sobre o império romano. Tudo a ver.
Afinal, jamais esqueçamos: Churchill era fanático por seu país e seu secular regime monárquico constitucional.
Campeão de polo
Na colônia em que servia como militar e lugar sobre o qual viria a travar uma das grandes polêmicas de sua vida, Índia, Winston descobriu os prazeres do scotch e pôde viver e desenvolver todo o seu amor e respeito pelos cavalos.
Animal em cima do qual se tornara um exímio jogador e viria a se sagrar, ao lado dos companheiros de time, campeão mundial entre as colônias e países que disputaram um torneio no país.
Crise existencial
Também na Índia, nos momentos de folga, Winston sentiu um vazio existencial diante da leitura dos gregos, particularmente sobre o significado de uma palavra: ética.
As conexões maternas e um “foca” na praça
Cumprido o serviço militar, descartada a ida para uma universidade e ciente da sua paixão pela língua natal, seja falada, escrita ou interpretada, o jovem Churchill se valeu das conexões e contatos de lady Churchill, que conseguiu cavar uma vaga de jornalista nos prestigiosos impressos do Reino Unido, particularmente, de Londres, a capital do império britânico
A guerra dos Bôeres e o prisioneiro de guerra
Em missão de reconhecimento com seus companheiros de farda, aos 25 anos, em 1899, no conflito contra colonos de origem holandesa e francesa naquela que ficou conhecida como a “Guerra dos Bôeres”, e cujo motivo era a disputa pelo poder de explorar as minas de pedras preciosas na África do Sul, Churchill acabou capturado.
No cárcere, ele planejara um plano de fuga por fim bem sucedido, durante o qual corria e caminhava de noite e se escondia de dia, num total de 500 kms percorridos até que, exausto, quase no limite de suas forças, encontrara um conterrâneo carvoeiro que o socorrera e o mantivera escondido até lhe entregar para as tropas de sua majestade, a rainha Vitória.
O fugitivo e a fama repentina
A façanha foi acompanhada capítulo a capítulo em Londres e na África do Sul, local da guerra, tornando-o uma celebridade internacional, após noticiar-se a fuga espetacular e o seu salvamento por todos os periódicos da capital inglesa e outros tantos do país e da Europa.
A virada do século e o deputado tory
A fama, as conexões, o talento pessoal e o pedigree pesaram, afinal na sua primeira eleição como parlamentar Tory, na Câmara dos Comuns, uma das casas do Parlamento Inglês, onde seu pai, espelho e superego, também servira.
Clementine Hozier, mulher e filhos
Se conheceram em 1904 e casaram quatro anos depois, 1908.
Uma linda, fiel e admirável história construída pelo aristocrata que se apaixonou pela moça discreta sem títulos de nobreza, gesto suficiente na corte inglesa para ser considerado um casamento por amor, não interesses.
Churchill amou fielmente sua esposa e por ela foi amado e respeitado de igual forma, bem diferente dos conturbados casamentos dos pais de ambos, até que a morte os separasse.
Foram pai de cinco filhos, Dianna, Randolph, Sarah, Mary Gold (falecida criança) e Mary, a caçula e mais longeva de todos.
Ficaram juntos até **24 de janeiro de 1965. Nonagenário, escreveu poeminhas e declarações de amor por ela praticamente até o final.
Já dona do (merecido) título de Baronesa Spencer-Churchill, “Clemmie” descansou em 1977.
40 anos em 4 atos
Entre 1900 e 1940, Churchill se tornara um parlamentar de primeiro time, ao tempo em que consolidara sua carreira de escritor, fora e voltara dos Tories para os Liberais, ocupando mais de uma dezena de cargos em seis governos, vivera e lutara a I Guerra Mundial, vira a Revolução Bolchevique, o Tratado de Versalhes, uma abdicação, o surgimento do nazifascismo, o fracasso, o ostracismo e a volta por cima.
Fracassos e polêmicas ou Dardanelos, Índia e Ghandi
Dentre as maiores polêmicas em que esteve envolvido, destaque para o fracasso da estratégia franco-inglesa que ajudara a conceber e implementar como 1º Lord do Almirantado, o cargo mais alto da então Marinha mais poderosa do mundo, em 1915, segundo ano da I Guerra Mundial, na Bacia de Galípoli, região pertencente ao Império Turco Otomano.
A “Batalha de Galípoli” foi enfim vencida pelos turco-otomanos, que impuseram um contra-ataque devastador no moral e nas tropas inglesas no Estreito de Dardanelos, o que fez com que Winston deixasse o comando da Marinha sob fogo cerrado dos seus adversários em seu partido e da oposição.
Ainda assim, ele fez questão de voltar ao campo de batalha, período em que enfrentara forte depressão e começara a pintar como forma de terapia ocupacional.
Seu amigo e líder, Lloyd George, o nomeara ministro das Munições e, nessa condição, fardado e patenteado, ele fez questão de servir nas escaramuças da grande carnificina.
Winston ainda enfrentaria fortes críticas pela sua oposição à independência da Índia, oportunidade em que fora considerado intransigente em relação ao pacifista Mahatma Gandhi e, de outra forma, pela postura que adotara na crise da abdicação do duque de Windsor.
Perto dos alertas e capacidade de antever o perigo e os passos de Adolf Hitler, isso nada seria. E, ao cabo e ao fim, o great old man sempre foi um apaixonado e devotado súdito de Sua Majestade.
Logo, um inflexível defensor do Império Britânico.
Churchill francófilo
Não precisa ser expert em Reino Unido e França para saber que a “Guerra dos 100 Anos” deixou sequelas, sentimentos bairristas e ressentimentos em milhões de franceses e ingleses que não cessariam mesmo mais de cinco séculos após o fim do conflito entre os séculos XIV e XV.
Pois WSC era um francófilo amante da Riviera, dos vinhos, champanhes, gastronomia e, especialmente, de Napoleão Bonaparte e Joana d’Arc. Da “glória da França”, afinal.
Downing Street nº 10 ou Prime Minister em tempos de guerra (1940-1945)
O tribuno mais admirado, os discursos mais emocionantes, belos e bem preparados, a resistência, a coragem, o destemor.
O estrategista, o caloroso, o emocionado, o presente, o persistente, o aliado, o líder, o abnegado, o indutor da crença.
O inglês que ajudou a salvar a Europa e o mundo.
FDR e a parceria fundamental
Das afinidades eletivas, do senso de grandeza e predestinação, da ligação que nunca cessara ou cessará.
Da empatia imediata, da sincronicidade, da constelação de estadistas, do apoio decisivo, da divergência sobre colônias e impérios, do pragmatismo e do fim épico de ambos.
A derrota e a volta ou Prime Minister em tempos de paz (1951-1955)
A luta pela não-proliferação nuclear e o desejo de paz permanente marcaram a segunda passagem de WSC pelo “Número 10” de Downing Street.
Considerado velho, cansado e doente por muitos, renunciou em 1955, permanecendo na Câmara dos Comuns até quase 1964
Nobel de LIteratura
Quando agraciado, fez um muxoxo, pois preferia o “da Paz”.
*A Cortina de Ferro
No célebre discurso de Fulton, Missouri, em 1946, Churchill proferiu pela primeira vez o termo “Cortina de Ferro", de autoria do russo Vasily Rozanov.
Uma epifânia e o reencontro com o pai
É genial a epifania de Churchill revelada na biografia escrita por Roy Jenkins, naquele que seria um hipotético “reencontro” quase sete décadas após a morte de seu pai, lord Randolph, com aquele que seria o espectro dele.
Winston, consagrado e no crepúsculo de sua vida, revelou a cena em que encontrava com o pai que lhe perguntara algo como a expressão em português “quanto tempo”, para, em seguida, questioná-lo sobre o que vinha acontecendo desde que partira.
Após obter detalhada resposta, particularmente sobre o período da II Guerra, em mais um lance da sua ignorância em relação aos talentos do rebento da era vitoriana, e de novamente subestimá-lo, ele o questionara de onde assistira as cenas retratadas, na medida em que as detalhava com tamanho rigor e precisão.
Eis que o homem em idade avançada, no exato momento em que revelaria ao pai de quem se tratava Winston S. Churchill, fora acordado, o que encerrara a conversa.
Churchill em 2025
Estaria onde sempre esteve: defendendo o Ocidente do ódio, da perseguição e do obscurantismo; a democracia, Israel e Wolodymir Zelensky, bem como o apoio da OTAN contra a agressão à soberania do país invadido.
Brexit?, basta procurar saber o que ele falava, entre 1945-1955, sobre a necessidade de criação da União Europeia e o papel do Reino Unido, da Grã-Bretanha diante do fato.
Eterno
Pela imensidão, sensibilidade, humanidade, bom humor, tiradas, sacadas, auto-depreciação, coragem, ensinamentos, tudo!
Livros, filmes, The Crown, popstar
Capítulo à parte.
Pets
Cultuava e amava cavalos e cães. Em Chartwell, sua mítica casa de campo e residência por mais de quarenta anos, localizada nas cercanias de Londres, ele criava gatos, patos, gansos, etc, etc, etc…
**Winston morreu no dia 24 de janeiro de 1965, exatos 70 anos após seu pai, Randolph Churchill, que perecera de complicações causadas pela Sífilis, na mesma data em 1895.